Junho de 2015 - Obra do mineiro Jônatas Reis é escolhida na 6ª edição do Festival Tinta Fresca

A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais anunciou nesta quarta-feira, 3 de junho, na Sala Minas Gerais, a obra vencedora do Festival Tinta Fresca 2015, que se destina ao fomento, divulgação e estímulo a jovens compositores.

Jônatas Reis | © Netun Lima

A obra Messiânicas Brasileiras nº 3: Grande Sertão Exótico, do mineiro Jônatas Reis, foi a escolhida entre as seis finalistas apresentadas no concerto de encerramento do Festival, regido pelo maestro associado da Orquestra, Marcos Arakaki. O prêmio é a encomenda de uma nova composição, a ser estreada pela Filarmônica de Minas Gerais na Temporada 2016. O segundo lugar foi para a obra Eosos, de Gabriel Penido, e o terceiro lugar para Le Tombeaux Vides, de Felipe Vasconcelos. Os três compositores são mineiros e se formaram na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A comissão julgadora, formada pelos compositores João Guilherme Ripper, Oiliam Lanna e Ronaldo Miranda,  avaliou as 30 partituras inscritas no Festival Tinta Fresca 2015, provenientes de dez estados do país. Destas, seis obras foram escolhidas e preparadas para apresentação pública. Durante a preparação, seus compositores participaram ativamente dos ensaios, interagindo com orquestra e regente, bem como com o júri, a fim de conhecer, com maior profundidade, diferentes visões sobre seus trabalhos. Dentre as obras finalistas,  também  estavam A Lenda da Vitória Régia, de Gustavo Velasco, Reza (opus 3), de Paulo Arruda, e Alucinações Cadavéricas, de Cadu Verdan.

Os vencedores das edições anteriores do Festival Tinta Fresca foram Rafael Nassif (2008), Sergio Rodrigo (2010), ambos de Minas Gerais, Vicente Alexim (2011), do Rio de Janeiro, Carlos dos Santos (2012), de São Paulo, e Leonardo Margutti (2013), de Minas Gerais.

Na visão de Jônatas Reis, vencedor desta edição, o Festival Tinta Fresca revela-se uma “magnífica e única oportunidade” para compositores de música orquestral. “O ofício é difícil. Daí a importância de motivação. Analogamente, é a mesma coisa do pintor que não tem sala de exposição para mostrar seus quadros. No caso dos artistas sinfônicos, tudo é ainda mais complexo, pois é necessária uma estrutura gigantesca, a orquestra, para que apresentem seu trabalho ao público”, comenta, ao destacar que o evento da Filarmônica de Minas Gerais permite que se dê continuidade à tradição musical para orquestra: “Estou muito feliz! O Festival é fundamental à preservação da escrita sinfônica nacional”. Quanto à obra inédita a ser apresentada no ano que vem, o compositor afirma já ter boas ideias. “Preciso conversar com o maestro Fabio Mechetti, para saber qual delas se encaixará melhor no conceito do concerto”, conclui.

Integrante do júri nesta edição, o compositor Ronaldo Miranda também ressalta a relevância do Festival Tinta Fresca como estímulo ao jovem compositor, que vive a experiência de ver sua obra interpretada por uma orquestra de excelência e pode acompanhar os ensaios para o concerto. “São duas etapas em que o aprendizado alcança seu mais alto grau. Muitos dos candidatos já estudam Composição – até mesmo, em nível de doutorado –, mas são ainda jovens, na faixa dos 30 anos, que escrevem as primeiras obras para orquestra. Uma coisa é a experiência teórica. Outra, a vivência prática”, comenta, ao ressaltar outro grande trunfo do evento: “Trata-se da possibilidade de o músico interagir com uma orquestra da qualidade da Filarmônica de Minas Gerais”.

Ronaldo Miranda chama a atenção, ainda, para a fato de o Festival contemplar talentos de todas as regiões do país. “O concurso é muito representativo. Da última vez em que estive no júri, o vencedor era de São Paulo. Em segundo lugar, estava um carioca de origem italiana, e, em terceiro, um baiano. Dessa vez, os três vencedores são de Minas Gerais, mas, entre os finalistas, também havia um pernambucano, um paraense e um fluminense”, comenta. Quanto à obra vencedora em 2015, o compositor sublinha o “domínio da orquestra” revelado por Jônatas Reis. “O compositor tem um sentido rítmico bastante vivo. Ele é muito intenso em tudo o que faz e sabe manejar todos os naipes com propriedade”.


A OBRA ESCOLHIDA

Messiânicas Brasileiras nº 3 – Grande Sertão Exótico é a continuação da série de composições escritas em homenagem ao compositor francês Olivier Messiaen. A obra é dedicada à memória do escritor mineiro Guimarães Rosa, cujo 107º aniversário será celebrado no dia 27 de junho. Messiaen e Guimarães Rosa nasceram no mesmo ano: 1908. Essa dupla homenagem, muito além de um simples protocolo de cordialidade, nos oferece uma viagem musical de quatro movimentos cujos títulos, melodias e ritmos evocam lembranças e sentimentos que nos fazem visualizar cenas do Sertão. Tal proposta composicional produziu uma exótica fusão de estilos, em que as sonoridades da música folclórica convivem de forma orgânica com as cores peculiares do modernismo musical de Messiaen, num tecido orquestral exuberante entrelaçado por uma variedade de atmosferas e contrastes.


O COMPOSITOR JÔNATAS REIS  
                                

Natural de Belo Horizonte, Jônatas Reis estudou música na Escuela Superior de Música José Angel Lamas, em Caracas, Venezuela, e é Bacharel em Composição pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2003 escreveu sua primeira obra para orquestra, premiada no ano seguinte. Desde então suas obras sinfônicas têm sido executadas pelas orquestras Petrobras Sinfônica do Rio de Janeiro, Sinfônica da UFMG, Sinfônica de Minas Gerais e Filarmônica de Minas Gerais, além de diversas bandas sinfônicas. Recebeu os prêmios BDMG/Fundação Clóvis Salgado de Composição Sinfônica 2004; Hino de Farroupilha, RS, 2009; Menção Honrosa Festival Tinta Fresca 2010; Concurso de Composição e Arranjo da Orquestra de Sopros da Fundação de Educação Artística 2011; Prêmio de Composição Sinfônica Guerra-Peixe: 100 anos 2014.




Na última quarta, quando o maestro Marcos Arakaki perguntou quem estava na Sala Minas Gerais pela primeira vez, a imensa maioria ergueu os braços. Todos estavam ali não para ouvir música Barroca ou Romântica, mas sim obras do nosso tempo, música contemporânea de fato. Elas foram escritas por compositores brasileiros para o Festival Tinta Fresca.
Jônatas Reis, mineiro de Belo Horizonte, foi o vencedor do sexto Festival com "Messiânicas Brasileiras nº 3 – Grande Sertão Exótico" - como prêmio, recebeu a encomenda de criar uma peça para estrearmos na Temporada 2016. Em segundo lugar, ficou a obra "Eosos" de Gabriel Penino e, em terceiro, "Les Tombeaux Vides" de Felipe Vasconcelos, ambos de Minas Gerais.
Parabéns ao Jônatas e também aos outros cinco finalistas! Um agradecimento para lá de especial aos jurados João Guilherme Ripper, Oiliam Lanna e Ronaldo Miranda e também aos nossos músicos e ao maestro Marcos Arakaki.


Fonte: Jornal HOJE EM DIA 4 de jun de 2015

Cerimônia de entrega do Prêmio:
Fotos: Netun Lima