Jônatas Reis | © Netun Lima
A obra Messiânicas Brasileiras nº 3: Grande Sertão Exótico,
do mineiro Jônatas Reis, foi a escolhida entre as seis finalistas apresentadas
no concerto de encerramento do Festival, regido pelo maestro associado da
Orquestra, Marcos Arakaki. O prêmio é a encomenda de uma nova composição, a ser
estreada pela Filarmônica de Minas Gerais na Temporada 2016. O segundo lugar
foi para a obra Eosos, de Gabriel Penido, e o terceiro lugar para Le Tombeaux
Vides, de Felipe Vasconcelos. Os três compositores são mineiros e se formaram
na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A comissão julgadora, formada pelos compositores João
Guilherme Ripper, Oiliam Lanna e Ronaldo Miranda, avaliou as 30 partituras inscritas no
Festival Tinta Fresca 2015, provenientes de dez estados do país. Destas, seis
obras foram escolhidas e preparadas para apresentação pública. Durante a
preparação, seus compositores participaram ativamente dos ensaios, interagindo
com orquestra e regente, bem como com o júri, a fim de conhecer, com maior profundidade,
diferentes visões sobre seus trabalhos. Dentre as obras finalistas, também
estavam A Lenda da Vitória Régia, de Gustavo Velasco, Reza (opus 3), de
Paulo Arruda, e Alucinações Cadavéricas, de Cadu Verdan.
Os vencedores das edições anteriores do Festival Tinta
Fresca foram Rafael Nassif (2008), Sergio Rodrigo (2010), ambos de Minas
Gerais, Vicente Alexim (2011), do Rio de Janeiro, Carlos dos Santos (2012), de
São Paulo, e Leonardo Margutti (2013), de Minas Gerais.
Na visão de Jônatas Reis, vencedor desta edição, o Festival
Tinta Fresca revela-se uma “magnífica e única oportunidade” para compositores
de música orquestral. “O ofício é difícil. Daí a importância de motivação.
Analogamente, é a mesma coisa do pintor que não tem sala de exposição para
mostrar seus quadros. No caso dos artistas sinfônicos, tudo é ainda mais
complexo, pois é necessária uma estrutura gigantesca, a orquestra, para que
apresentem seu trabalho ao público”, comenta, ao destacar que o evento da
Filarmônica de Minas Gerais permite que se dê continuidade à tradição musical
para orquestra: “Estou muito feliz! O Festival é fundamental à preservação da
escrita sinfônica nacional”. Quanto à obra inédita a ser apresentada no ano que
vem, o compositor afirma já ter boas ideias. “Preciso conversar com o maestro
Fabio Mechetti, para saber qual delas se encaixará melhor no conceito do
concerto”, conclui.
Integrante do júri nesta edição, o compositor Ronaldo
Miranda também ressalta a relevância do Festival Tinta Fresca como estímulo ao jovem
compositor, que vive a experiência de ver sua obra interpretada por uma
orquestra de excelência e pode acompanhar os ensaios para o concerto. “São duas
etapas em que o aprendizado alcança seu mais alto grau. Muitos dos candidatos
já estudam Composição – até mesmo, em nível de doutorado –, mas são ainda
jovens, na faixa dos 30 anos, que escrevem as primeiras obras para orquestra.
Uma coisa é a experiência teórica. Outra, a vivência prática”, comenta, ao
ressaltar outro grande trunfo do evento: “Trata-se da possibilidade de o músico
interagir com uma orquestra da qualidade da Filarmônica de Minas Gerais”.
Ronaldo Miranda chama a atenção, ainda, para a fato de o
Festival contemplar talentos de todas as regiões do país. “O concurso é muito
representativo. Da última vez em que estive no júri, o vencedor era de São
Paulo. Em segundo lugar, estava um carioca de origem italiana, e, em terceiro,
um baiano. Dessa vez, os três vencedores são de Minas Gerais, mas, entre os
finalistas, também havia um pernambucano, um paraense e um fluminense”,
comenta. Quanto à obra vencedora em 2015, o compositor sublinha o “domínio da
orquestra” revelado por Jônatas Reis. “O compositor tem um sentido rítmico
bastante vivo. Ele é muito intenso em tudo o que faz e sabe manejar todos os
naipes com propriedade”.
A OBRA ESCOLHIDA
Messiânicas Brasileiras nº 3 – Grande Sertão Exótico é a
continuação da série de composições escritas em homenagem ao compositor francês
Olivier Messiaen. A obra é dedicada à memória do escritor mineiro Guimarães
Rosa, cujo 107º aniversário será celebrado no dia 27 de junho. Messiaen e
Guimarães Rosa nasceram no mesmo ano: 1908. Essa dupla homenagem, muito além de
um simples protocolo de cordialidade, nos oferece uma viagem musical de quatro
movimentos cujos títulos, melodias e ritmos evocam lembranças e sentimentos que
nos fazem visualizar cenas do Sertão. Tal proposta composicional produziu uma
exótica fusão de estilos, em que as sonoridades da música folclórica convivem
de forma orgânica com as cores peculiares do modernismo musical de Messiaen,
num tecido orquestral exuberante entrelaçado por uma variedade de atmosferas e
contrastes.
O COMPOSITOR JÔNATAS REIS
Natural de Belo Horizonte, Jônatas Reis estudou música na
Escuela Superior de Música José Angel Lamas, em Caracas, Venezuela, e é
Bacharel em Composição pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em
2003 escreveu sua primeira obra para orquestra, premiada no ano seguinte. Desde
então suas obras sinfônicas têm sido executadas pelas orquestras Petrobras Sinfônica
do Rio de Janeiro, Sinfônica da UFMG, Sinfônica de Minas Gerais e Filarmônica
de Minas Gerais, além de diversas bandas sinfônicas. Recebeu os prêmios
BDMG/Fundação Clóvis Salgado de Composição Sinfônica 2004; Hino de Farroupilha,
RS, 2009; Menção Honrosa Festival Tinta Fresca 2010; Concurso de Composição e
Arranjo da Orquestra de Sopros da Fundação de Educação Artística 2011; Prêmio
de Composição Sinfônica Guerra-Peixe: 100 anos 2014.
Na última quarta, quando o maestro Marcos Arakaki perguntou
quem estava na Sala Minas Gerais pela primeira vez, a imensa maioria ergueu os
braços. Todos estavam ali não para ouvir música Barroca ou Romântica, mas sim
obras do nosso tempo, música contemporânea de fato. Elas foram escritas por
compositores brasileiros para o Festival Tinta Fresca.
Jônatas Reis, mineiro de Belo Horizonte, foi o vencedor do
sexto Festival com "Messiânicas Brasileiras nº 3 – Grande Sertão
Exótico" - como prêmio, recebeu a encomenda de criar uma peça para
estrearmos na Temporada 2016. Em segundo lugar, ficou a obra "Eosos"
de Gabriel Penino e, em terceiro, "Les Tombeaux Vides" de Felipe
Vasconcelos, ambos de Minas Gerais.
Parabéns ao Jônatas e também aos outros cinco finalistas! Um
agradecimento para lá de especial aos jurados João Guilherme Ripper, Oiliam
Lanna e Ronaldo Miranda e também aos nossos músicos e ao maestro Marcos
Arakaki.